A Guerra dos Gigantes do Delivery no Brasil: iFood, Rappi, 99Food e a Chegada da Meituan
Um Mercado em Ebulição
O mercado de delivery no Brasil, um dos maiores e mais dinâmicos do mundo, está em um ponto de inflexão. A consolidação do iFood como líder absoluto, com uma fatia de mercado que ultrapassa os 80% [1], parecia um cenário imutável. No entanto, a chegada de novos e poderosos concorrentes, como a 99Food e a gigante chinesa Meituan, promete acirrar a competição e redesenhar o futuro do setor. Este artigo explora o atual cenário do delivery no Brasil, as estratégias dos principais players e o que esperar dessa nova fase de competição acirrada.
O Crescimento Exponencial do Delivery no Brasil
O mercado de delivery de alimentos no Brasil tem demonstrado um crescimento notável nos últimos anos, impulsionado por mudanças nos hábitos de consumo e pela conveniência oferecida pelos aplicativos. Em 2023, o setor movimentou cerca de R$139 bilhões, com um crescimento superior a 20% em relação ao ano anterior [9]. As projeções indicam que a receita do mercado de entrega de comida online no Brasil deve alcançar US$ 21,18 bilhões em 2025, com uma taxa de crescimento anual de 7% até 2029, atingindo 90,5 milhões de usuários [6, 8].
Esse crescimento é atribuído a diversos fatores, incluindo a digitalização crescente da população, a busca por praticidade e a expansão da oferta de restaurantes e serviços de entrega. A pandemia de COVID-19 acelerou a adoção do delivery, consolidando-o como um hábito para muitos brasileiros. O iFood, por exemplo, encerrou 2024 com 380 mil estabelecimentos parceiros, o que demonstra a capilaridade e a aceitação do serviço no país [5].
iFood: O Gigante Dominante e Suas Estratégias
O iFood se consolidou como o líder incontestável do mercado de delivery no Brasil, detendo uma fatia de mercado que varia entre 80% e 89%, dependendo da fonte [1, 3, 5, 8]. Essa dominância é resultado de uma combinação de fatores, incluindo pioneirismo, investimento massivo em tecnologia e marketing, e uma estratégia agressiva de expansão.
As estratégias do iFood para manter sua liderança são multifacetadas. A empresa foca na satisfação do cliente, na conveniência e na ampliação de seu ecossistema. Com 55 milhões de usuários e 110 milhões de pedidos mensais, o iFood expande sua atuação para além do delivery de comida, investindo em novos serviços e soluções de pagamento, como o iFood Pago [6, 10]. A empresa também busca se conectar emocionalmente com os usuários através de campanhas publicitárias [7].
Recentemente, o iFood tem enfrentado desafios relacionados à instabilidade do aplicativo em alguns dispositivos Android e a críticas de representantes de entregadores sobre as condições de trabalho, apesar de anunciar bônus [4, 7]. No entanto, a empresa continua a inovar, como evidenciado pela parceria com o Google para otimizar a busca por restaurantes com delivery [8]. O iFood também está testando novas estratégias para conquistar a classe C, com planos de expansão para todo o país [9].
Rappi: A Estratégia do SuperApp e a Batalha pela Inovação
O Rappi, embora com uma fatia de mercado menor que o iFood, é um player significativo no cenário de delivery brasileiro, com cerca de 2.7% a 25% do market share, dependendo da métrica e fonte [1, 2, 9, 10]. A empresa se destaca por sua estratégia de “superapp”, oferecendo uma gama diversificada de serviços que vão além da entrega de comida, incluindo supermercado, farmácia, e-commerce e até serviços financeiros. Essa diversificação busca criar um ecossistema completo para o usuário, aumentando a fidelidade e o tempo de uso da plataforma.
A estratégia global do Rappi tem o Brasil como prioridade, e a empresa tem investido pesado para consolidar sua presença. Recentemente, o Rappi anunciou um plano de investimento de R$ 1,4 bilhão no Brasil até 2028, com a promessa de zerar as taxas cobradas de restaurantes por um período [6, 8, 10]. Essa medida visa atrair mais estabelecimentos e aumentar a competitividade da plataforma. Além disso, o Rappi tem buscado parcerias estratégicas, como a recente integração com o Google, que permite aos usuários escolher o Rappi como opção de entrega diretamente na busca [7].
O Rappi também tem focado em estratégias de inovação para atrair clientes, como o conceito “Turbo-first”, que visa otimizar o tempo de entrega e a experiência do cliente [7]. A empresa busca se diferenciar pela qualidade do serviço e pela variedade de opções, apostando na conveniência e na agilidade para conquistar e reter usuários em um mercado cada vez mais disputado.
99Food: O Retorno com Estratégia Agressiva
A 99Food, braço de delivery da gigante chinesa DiDi Global Inc., está de volta ao mercado brasileiro com uma estratégia agressiva e um investimento robusto de R$ 1 bilhão [2, 5]. Após ter encerrado suas operações em 2023, a plataforma reiniciou suas atividades em junho de 2025, com foco inicial em Goiânia e planos de expansão nacional [2, 3, 5].
O retorno da 99Food é marcado por uma proposta de valor diferenciada, que busca atrair restaurantes e entregadores. A empresa anunciou que zerará as taxas de comissão e mensalidade para restaurantes por dois anos, permitindo que os estabelecimentos lucrem até 20% a mais por pedido [4, 6]. Essa medida visa romper o modelo atual de remuneração e desafiar a dominância do iFood, que concentra a maior parte do mercado [1, 5].
Além da isenção de taxas, a 99Food também foca na valorização dos entregadores, prometendo ganhos mínimos e maior transparência nas condições de trabalho [10]. A estratégia da 99Food é integrar o serviço de delivery ao seu superapp, que já oferece soluções de transporte, buscando ampliar o acesso ao trabalho e à renda [6]. A empresa também está investindo em tecnologia e logística para garantir entregas eficientes e uma boa experiência para o usuário [8].
Meituan: A Gigante Chinesa e a Ameaça Iminente
A chegada da Meituan, a maior empresa de delivery da China, ao mercado brasileiro representa uma nova e poderosa ameaça à hegemonia do iFood. A empresa anunciou um investimento de R$ 5,6 bilhões no Brasil até 2030, com a marca internacional Keeta [1, 2, 4]. A entrada da Meituan promete acirrar ainda mais a competição no setor, com uma estratégia agressiva de subsídios e promoções, como primeiros pedidos por R$ 1,99 e frete grátis [1].
A Meituan é conhecida por sua estratégia de “Varejo + Tecnologia”, que busca ajudar as pessoas a “comer melhor e viver melhor” [4]. A empresa tem um histórico de sucesso na China, com 770 milhões de usuários ativos, e agora busca expandir sua presença global, com o Brasil como um dos principais mercados-alvo [6]. A Meituan planeja atrair cem mil motoristas de moto e abrir ao menos mil vagas no primeiro ano de operação no Brasil [4].
A entrada da Meituan no Brasil ocorre em um momento de grande expectativa e incerteza. A empresa tem um poder de fogo financeiro significativo e uma vasta experiência no mercado de delivery, o que a torna uma concorrente formidável. A chegada da Meituan pode levar a uma “guerra de preços” e a uma maior pressão sobre as margens de lucro dos players existentes, mas também pode beneficiar os consumidores com mais opções e preços mais baixos.
O Impacto da Competição e as Perspectivas Futuras
A intensificação da competição no mercado de delivery brasileiro, com a entrada de novos players e as estratégias agressivas dos já estabelecidos, terá um impacto significativo em todo o ecossistema. Para os consumidores, a expectativa é de mais opções, melhores preços e serviços, e promoções mais atrativas. A “guerra de subsídios” pode beneficiar diretamente o bolso do usuário final.
Para os restaurantes e bares, a competição pode trazer tanto desafios quanto oportunidades. Por um lado, a maior concorrência entre as plataformas pode levar a uma redução das taxas de comissão e a melhores condições de parceria. Por outro lado, a necessidade de se destacar em um ambiente mais concorrido exigirá maior investimento em marketing, qualidade de serviço e diferenciação. A escolha da plataforma ideal para cada negócio se tornará ainda mais crucial.
Para os entregadores, a situação é mais complexa. A maior demanda por entregas pode gerar mais oportunidades de trabalho, mas a pressão por preços mais baixos e a busca por eficiência podem impactar as condições de remuneração. O debate sobre os direitos trabalhistas e a regulamentação do trabalho por aplicativo deve se intensificar com a chegada de novos players e a reconfiguração do mercado [4].
O futuro do delivery no Brasil aponta para um cenário de constante inovação e adaptação. A tecnologia continuará a desempenhar um papel fundamental, com o desenvolvimento de soluções mais eficientes para logística, gestão de pedidos e experiência do cliente. A integração de serviços, a personalização e a sustentabilidade também serão fatores-chave para o sucesso das plataformas e dos estabelecimentos parceiros.
Um Novo Capítulo no Delivery Brasileiro
O mercado de delivery no Brasil está entrando em um novo e emocionante capítulo. A chegada da 99Food e da Meituan, somada às estratégias de inovação e investimento de iFood e Rappi, promete transformar o cenário de entregas de alimentos no país. A competição acirrada beneficiará os consumidores, que terão mais opções e melhores serviços, e exigirá que restaurantes e plataformas se adaptem rapidamente às novas dinâmicas do mercado.
Nesse ambiente de constante mudança, a capacidade de inovar, de entender as necessidades dos clientes e de construir parcerias sólidas será fundamental para o sucesso. O Brasil se consolida como um laboratório global para o setor de delivery, e os próximos anos prometem ser de grande efervescência e transformação.