Celular no Trabalho: Como Implementar Regras Sem Riscos Legais no Food Service
Liberdade ou risco oculto na sua operação?
Nos restaurantes, bares, pizzarias e lanchonetes, o celular no trabalho pessoal já se tornou um companheiro inseparável de clientes e empregados. Mas o que para alguns é apenas uma distração, para o empresário pode se transformar em um risco sanitário, de segurança, de produtividade e até trabalhista.
Casos recentes, como o de uma funcionária de grande rede varejista demitida por justa causa após desviar dinheiro para jogar em sites de apostas, mostram como o uso inadequado do celular no trabalho pode estar associado a faltas graves, inclusive à prática constante de jogos de azar, hipótese expressamente prevista no artigo 482 da CLT como motivo de justa causa.
No setor de alimentação, onde a manipulação de alimentos exige rigor, o contato com clientes demanda profissionalismo e a agilidade da equipe define a experiência do consumidor, a ausência de uma política clara sobre o celular no trabalho pode custar caro.
A boa notícia é que o poder diretivo do empregador, garantido pela CLT, permite estabelecer regras firmes para prevenir abusos e ainda aumentar a produtividade e reduzir acidentes de trabalho. Neste artigo, mostramos como implementar uma política interna de uso do celular no trabalho e por que contar com suporte jurídico especializado é fundamental.
1. O poder diretivo do empregador: base legal para estabelecer regras sobre o celular no trabalho
O empregador tem o direito de dirigir a prestação de serviços, o que inclui a possibilidade de impor regras de conduta aos empregados. No caso do uso de celulares, a CLT e as normas sanitárias reforçam essa prerrogativa. A Resolução DC/ANVISA 216/2024 proíbe objetos pessoais em áreas de manipulação de alimentos, e no Rio de Janeiro, a Portaria IVISA-RIO 2/2020 (art. 46, VII) veda expressamente o uso de celular no trabalho em cozinhas.
Assim, o empresário que proíbe o uso de celular no trabalho no ambiente operacional não apenas exerce seu direito, mas cumpre obrigações legais e sanitárias, protegendo clientes, aumentando a produtividade e evitando acidentes decorrentes de distração no trabalho.
2. Como deve funcionar uma política interna de uso do celular no trabalho
Uma política interna de uso do celular no trabalho precisa ser clara, objetiva e adaptada à realidade de cada empresa. O ideal é que ela estabeleça, logo de início, em quais situações o uso será permitido. Normalmente, restringe-se aos intervalos de refeição ou descanso e, em casos excepcionais, a emergências pessoais devidamente comunicadas e autorizadas pela liderança. Fora desses momentos, o celular deve permanecer guardado em local apropriado, sob responsabilidade do empregado.
Também é fundamental definir expressamente as situações em que o uso é proibido. Isso inclui atender ligações, enviar mensagens, acessar redes sociais ou realizar apostas online durante o expediente, além de gravar vídeos ou tirar fotos sem autorização da empresa. Outro ponto importante é vedar a permanência de celular no trabalho em bancadas, mesas de atendimento, pias e áreas de manipulação de alimentos, em razão dos riscos de contaminação, acidentes e autuações sanitárias.
A política deve deixar claro que tais restrições não são meramente formais, mas estão diretamente ligadas à segurança no trabalho, à qualidade do atendimento, à segurança alimentar, à preservação da imagem do negócio e ao aumento da produtividade. Afinal, empregados focados nas tarefas têm melhor rendimento e reduzem consideravelmente o risco de acidentes de trabalho, como cortes, queimaduras ou quedas provocadas pela distração.
Por fim, é necessário que o documento preveja as penalidades aplicáveis em caso de descumprimento, que podem variar desde advertências verbais até a demissão por justa causa, dependendo da gravidade ou da reincidência da conduta. Para garantir legitimidade, todos os empregados devem ter acesso ao conteúdo da política, através de um treinamento específico e assinar um termo de ciência, demonstrando que compreenderam as regras e as consequências do seu descumprimento.
3. A importância de suporte jurídico especializado para o uso do celular no trabalho
Embora a empresa tenha o poder legal de estabelecer regras para o uso do celular no trabalho no ambiente de trabalho, a aplicação dessas normas precisa ser feita com cautela para não gerar nulidades ou até ações judiciais. Muitas vezes, o problema não está no conteúdo da política, mas na forma como ela é implementada ou como as sanções são aplicadas. Uma advertência mal redigida, uma suspensão sem justificativa clara ou até uma demissão por justa causa mal fundamentada podem ser suficientes para reverter a punição em juízo e transformar uma medida disciplinar legítima em um passivo trabalhista oneroso.
É nesse ponto que o suporte jurídico especializado se torna indispensável, na redação da política de forma alinhada à legislação vigente e às normas sanitárias, dando segurança de que ela será válida e eficaz. Além disso, é o suporte jurídico que orienta a gestão na coleta de provas, na proporcionalidade das punições e no registro documental das ocorrências, elementos que fazem toda a diferença em eventual processo.
No caso de situações mais graves, como o uso do celular no trabalho para práticas ilegais, jogos de azar ou condutas que configurem falta grave, o suporte jurídico é ainda mais estratégico. Ele assegura que a empresa aplique a justa causa de maneira correta, evitando alegações de abuso de poder, discriminação ou perdão tácito. Assim, mais do que um apoio pontual, a assessoria trabalhista funciona como um verdadeiro pilar de proteção para o negócio, garantindo que a política interna de celulares seja não apenas respeitada pelos empregados, mas também defendida de forma consistente perante a Justiça do Trabalho.
Celular sob controle, produtividade em alta no food service
No setor de food service, a experiência do cliente é resultado direto da disciplina e profissionalismo da equipe. O uso inadequado de celular no trabalho coloca tudo isso em risco: desde a segurança alimentar até a imagem do negócio.
Ao implementar uma política clara de uso do celular no trabalho, alinhada à legislação sanitária e trabalhista, você não apenas protege sua empresa contra riscos, mas também promove um ambiente mais produtivo e seguro, livre de distrações que podem gerar acidentes e comprometer o atendimento.
Mas atenção: para que a política seja legalmente válida e efetiva, é indispensável o apoio de um jurídico especializado, capaz de orientar a redação das normas, a aplicação de sanções e a defesa da empresa em eventual questionamento judicial. E você, empresário: sua empresa já possui uma política de uso do celular no trabalho segura, produtiva e juridicamente sólida? Se a resposta for não, agora é a hora de agir. Prevenir é sempre mais econômico do que remediar.
Este conteúdo foi produzido por Christiane Araujo, colunista convidada do Mundo Food Service. A autora responde integralmente pela apuração, redação e curadoria das informações aqui apresentadas.
Advogada Trabalhista Empresarial, com ampla experiência no setor de alimentação. Pós-graduada em: Direito Civil e Direito Processual Civil, Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho e Direito Empresarial. Mentora Jurídica. Membra das Comissões de Direito do Trabalho da OAB/Barra da Tijuca e de Mentoria Jurídica da OAB/DC. Membra da Comissão de Direito do Trabalho da ABA/RJ. Colaboradora da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/DC. Sócia fundadora do Escritório Christiane Araujo Advocacia Trabalhista Empresarial.
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